O otimismo com o cenário para investimentos em startups e em tecnologia, apesar dos desafios econômicos no Brasil e no mundo, foi consenso entre diferentes lideranças presentes no South Summit Brazil, evento global que levou mais de 100 fundos de investimento a Porto Alegre na última semana.
José Márcio Camargo, sócio e economista-chefe do Banco Genial, vê um cenário desafiador no curto prazo e uma perspectiva mais positiva para a economia brasileira a médio e longo prazo.
“Temos um novo governo que é muito ruidoso, então isso acaba gerando incerteza para os investidores. A pergunta que está na cabeça deles é: o governo vai conseguir pagar a dívida pública? Algo que está começando a criar problemas, incertezas para o funcionamento da economia”, explica Camargo.
Com o fim desses ruídos, o economista acredita que a economia brasileira vai voltar para uma trajetória de crescimento sustentável baseada no conjunto de reformas importantes realizadas nos últimos anos, como a trabalhista e a da previdência.
“São reformas que mudaram a forma de funcionar da economia brasileira e geraram enorme atratividade para o investimento privado. No longo prazo, a economia brasileira está na direção correta e isso é muito positivo. Há muito tempo que a gente não via um cenário desse tipo”, analisa Camargo.
O economista também destaca a estabilidade da taxa de câmbio e o grande diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.
“É muito difícil para o investidor americano olhar e falar: não vou investir no Brasil, porque é difícil perder 1% ao mês. Nos Estados Unidos, se ganha 0,0% em um investimento com algum grau de certeza. Aqui no Brasil, se ganha 13,75% ao ano. Não tem nenhum outro investimento que dê isso. Para ele não investir, só se achar que vai dar uma encrenca muito grande no futuro”, destaca Camargo.
Cesar Cavalheiro Leite, CEO e fundador da Empresas Processor, destaca que, apesar do mundo inteiro estar sofrendo com a recessão, o setor de tecnologia está quase imune à lógica de crescimento dos demais contextos, com alta que pode ser 20 vezes maior que o Produto Interno Bruto (PIB).
“Por um lado, o cenário global impacta, gera um contexto de menos verba disponível, de menos investimento. Por outro, como não investir no Brasil? Nós temos juros de 15% ao ano, somos uma aposta certa. Em um mercado com mais de 200 milhões de pessoas, tem greenfield em diversos setores, como educação, saúde e serviço. Tem muita coisa para fazer no Brasil”, avalia Leite.
Para Dagoberto Hajjar, CEO da Advance Consulting, o momento é característico do primeiro ano de mandato presidencial, mas, independente do que acontecer com a economia, a tecnologia vai muito bem em 2023 e 2024.
Um dos motivos é que, entre 2005 e 2020, o Brasil investiu muito pouco em TI, o equivalente a 2,1% do PIB. No mesmo período de 15 anos, os Estado Unidos investiram 3,9% do seu PIB e os países desenvolvidos investiram, em média 3,4%.
Há três anos, a pandemia exigiu investimentos rápidos nas áreas saúde, educação e varejo, justamente as que historicamente haviam recebido menos investimentos.
“Em 2020, eles fizeram esses investimentos que a gente chama band-aid. Agora, esse ano e ano que vem, é preciso tirar o band-aid e fazer o curativo bonitinho. Então vai haver um investimento muito grande de TI nessas áreas, independente do que acontecer na economia”, prevê Hajjar.
A menos que a economia dê uma tombada gigantesca, o pesquisador espera um crescimento de 23% no mercado de Tecnologia da Informação nesse ano e no ano que vem.
Quanto às startups, a perspectiva é que o cenário de muita inovação de tecnologia nos próximos anos propicie mais startups, com mais um crescimento acelerado.
“Nesse momento, a gente está ouvindo muito falar de redução do investimento, do número de pessoas. Eu acho que isso faz parte de um ciclo de amadurecimento da tecnologia. Tem muita startup que está ou vendendo ou fechando, dispensando muita gente no mercado. Não é ruim, isso é parte de um ciclo natural”, avalia Hajjar.
Tania Cosentino, general manager da Microsoft Brasil, acrescenta que o South Summit atrai olhares de diferentes grupos, entre eles investidores, pequenas, médias e grandes empresas de tecnologia, novos parceiros e também abre os olhos de vários usuários de tecnologia do que pode ser feito com ela.
“Eu sou investidora de startups e a startup é onde você acelera a inovação. Então olha quantos serviços novos apareceram nos últimos anos em relação a esse poder do empreendedor. E a nuvem é o grande habilitador desses novos negócios”, destaca Cosentino.
O South Summit é um evento criado em Madrid, em 2012, que escolheu o Brasil para a sua primeira edição fora da Espanha. Ela aconteceu em Porto Alegre em maio de 2022 e, neste ano, a segunda edição brasileira foi realizada entre os dias 29 e 31 de março.
Em uma área de 22 mil metros quadrados, a edição de 2023 contou com a presença de mais de 100 fundos de investimento e 900 palestrantes em oito palcos com programação simultânea para um público de 22 mil pessoas.
O evento também contou com a final da Competição de Startups, que desta vez teve mais de 2 mil inscrições, o dobro do ano anterior. Além da ampla participação nacional, com 92% dos estados brasileiros, figuraram na lista projetos de outros 85 países.
Fonte: Baguete